Controle puramente mental

Carlos Alberto Teixeira

Quase todos sonhamos com o dia em que poderemos controlar nossos eletrônicos e até dar comandos em nosso computador usando apenas o poder do pensamento. Estamos chegando lá. Paul Lariviere, por exemplo, é um dos pioneiros amadores em controle remoto mental assistido. Aos 31 anos, ele é formado em automação de processos e tecnologia em engenharia química. Vivendo em Ontario, no Canadá, ele conseguiu controlar um televisor usando o pensamento de "empurrar". A experiência está descrita em seu site killerprojects.wordpress.org.

É algo relativamente simples, mas simbolicamente importante, pois permite que usuários com habilidade em programação e eletrônica criem um nicho de mercado, onde podem oferecer produtos, serviços e aplicativos.

Seu aparato inclui um laptop rodando Windows XP, um headset EPOC e um controlador Arduino (vide box).

O headset EPOC é um aparato de cabeça produzido pela Emotiv (emotiv.com) para captar sinais eletroencefalográficos. É vendido em duas versões - uma para o consumidor comum (US$ 299) e outra com mais resolução de captação, para desenvolvedores (US$ 500).

O EPOC capta as emissões cerebrais em sensores de contato que se apóiam no crânio. Um software de apoio mapeia esses impulsos, associando-os a pensamentos, emoções e expressões do usuário. Ele conecta-se sem fio a um dongle USB espetado no PC.

Um usuário do EPOC pode treinar o software para apurar a identificação de seus estados mentais pelo sistema. E foi o que Paul fez. Em um vídeo no YouTube (bit.ly/paullariv) ele demonstra como usou o pensamento de "empurrar" para produzir uma ação específica no software. Para reforçar o pensamento, ele faz o gesto de empurrar, aumentando a concentração mental. O sistema permite várias ações mentais representando movimentos como levantar, rodar, puxar, apertar etc.

A ação era a de ligar/desligar o televisor, enviando o código infravermelho no padrão Panasonic, marca da TV em uso. Este é o mesmo sinal on/off que um controle remoto comum envia ao aparelho.

A experiência poderia ter sido ainda mais precisa se Paul tivesse treinado mais o headset para um mapeamento mental mais preciso. Mas como havia deixado o dispositivo parado por vários meses, e não o havia treinado a contento, a precisão dos comandos mentais não chegou a 100%.

A cada vez que ele intensificava o pensamento de empurrar, uma barra vertical crescia na tela do laptop, indicando a força do impulso.

O próximo melhoramento será ampliar a experiência, controlando também o decodificador da TV a cabo, empregando o pensamento de piscar o olho direito para incrementar o canal sintonizado, e o esquerdo para o oposto.

- No estágio atual da tecnologia de eletroencefalografia, não vejo uma aplicação comercial desse meu experimento. Fiz o teste apenas como uma prova de conceito - disse Lariviere à DIGITAL. - Mas quero desenvolver aplicações em acessibilidade para ajudar pessoas portadoras de deficiência. Por exemplo, um indivíduo paralisado do pescoço para baixo precisa usar movimentos em seu encosto de cabeça para acionar bobinas, que controlarão os movimentos de sua cadeira de rodas. Com uma implementação como a minha, ele poderia exercer o mesmo controle usando apenas o pensamento.

Segundo ele, o problema com essa tecnologia é que, quanto maior o número de pensamentos simultâneos interpretados, mais o software ainda os mistura.

- Se, no caso da TV, eu tivesse o liga/desliga associado ao pensamento de "empurrar", e o comando de aumentar o volume associado ao pensamento de "puxar", então a aplicação não seria 100% consistente - explica Lariviere. - Embora isso não seja um grande problema em uma aplicação de ligar ou desligar uma TV, transforma-se em uma séria questão de segurança quando estivermos lidando com mover objetos físicos.

Para realizar seu experimento, Lariviere inspirou-se num episódio do programa "Prototype This!" da Discovery (bit.ly/calminha), em que, graças a um headset EEG, um carro mudava a marcha para ponto-morto caso o motorista ficasse com raiva.

Outro projeto similar usando headset EPOC é o NeuroPhone, criado no Dartmouth College, nos EUA. Trata-se de uma interface mental para discar um número em um iPhone. Detalhes em bit.ly/neurophone.

Mas afinal, o que é esse Arduino?
Arduino é uma ferramenta para fazer com que computadores "sintam" e controlem mais do mundo real do que consegue o nosso bom e velho PC.

É uma plataforma de computação física em código aberto, baseada em uma simples placa de circuito impresso dotada de um chip microcontrolador e um ambiente de desenvolvimento de software para comandar a placa.

Arduino pode ser usada para desenvolver objetos interativos, captando entradas de diversos sensores e interruptores, e controlando uma variedade de luzes, motores e outras saídas eletromecânicas físicas.

Projetos desenvolvidos com Arduino podem ser autônomos ou se comunicar com software rodando em um outro computador.

A linguagem de programação do Arduino é uma implementação da linguagem "Wiring" (que não passa de um C++ simplificado) baseada no ambiente multimídia de programação chamado "Processing", também de código aberto, e usado para estabelecer a interligação entre um computador e o controlador Arduino, permitindo criar interfaces ouco ortodoxas.

O sistema viabiliza a criação de engenhocas e aparelhos que podem nos ajudar no cotidiano, permitindo programar ações eletromecânicas, tais como abrir portas, desligar eletrodomésticos, acionar motores, acender luzes, acionar o ar condicionado de sua sala, acionar a cafeteira e outras atividades bem mundanas.

Um vídeo explicativo em português pode ser visto em (bit.ly/arduvideo). Aliás, digitando "Arduino" (sem as aspas) no YouTube, você terá como retorno uma longa lista de vídeos instrutivos e exemplos de projetos e aplicações usando essa simpática, barata e revolucionária tecnologia. O site oficial do Arduino é http://arduino.cc.

Fonte: oglobo.globo.com

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