Apple: a grande ausente da E3, o inimigo que ninguém quer

A Microsoft vê a si mesma como uma empresa de software. A Sony vê a si mesma como uma empresa de produtos eletrônicos de consumo. A Nintendo vê a si mesma como uma empresa de brinquedos para toda a família. E todas tem o mesmo arqui-inimigo: a Apple.

Microsoft e Apple são rivais históricos, colaboradores ocasionais. Competição acirrada mês passado quando a Apple passou a Microsoft em valor de mercado na bolsa americana. Não é diferente no mundo dos games.

Por mais bem-sucedido que seja o Xbox 360 e a rede Xbox Live, a ação online de verdade está na AppStore. E em mobile, a Microsoft patina.

Sony é sinônimo de qualidade em consumer electronics, e ninguém entendeu antes de Akio Morita a confluência entre os mercados de hardware e software. A Sony é, além de fabricante de produtos, produtora de conteúdo faz décadas, em cinema, televisão, música e games.

Mas justamente seu gigantismo atrapalhou na execução da grande visão. E agora, é inquestionavelmente a Apple a líder quando se trata da compra de conteúdos digitais, via iTunes. E, não tem jeito, a Apple é a número um em eletrônicos – não em vendas, não em faturamento, não em portfolio, mas no imaginário do consumidor.

A Nintendo é o caso é uma espécie de mistura da Apple com a Disney – só que japonesa. A Nintendo tem uma coisa que ninguém mais tem no universo dos games:

a) controle sobre o hardware e o software
b) personagens superfamosos, superamados, em jogos exclusivos para sistemas Nintendo: Mario, Luigi, Link, Pokémon, Metroid etc.
c) o único supergênio inconteste do mundo dos games, com poderes de ditador benevolente, liderando uma equipe de desenvolvedores sem par: Shigeru Miyamoto.

A Nintendo domina o segmento de plataformas portáteis de games desde que ele existe. Pouca gente reparou que isso acabou. A maior plataforma portátil de games é o celular. Ninguém oferece experiência melhor que a Apple – com jogos para iPod, iPhone, agora iPad. E mais: um ecossistema que estimula e libera o desenvolvedor de jogos para mostrar seu melhor e ser remunerado por isso, sem amolação, sem interferência.

E onde a Apple vai, todo o segmento mobile segue. Vem aí um turbilhão de tablets na linha do iPad, em todas as faixas de preço e potência. Para que comprar um portátil que só serve para jogar se pelo mesmo preço ou um pouco mais você pode ter a mesma experiência de jogo e mais um zilhão de coisas?

Detalhe: Steve Jobs, monarca da Apple, chefão da Pixar, é o maior acionista individual da Disney. O desenvolvimento de jogos Disney/Pixar de primeira qualidade, exclusivos para plataformas Apple, é mais que tema de pesadelo para executivos da Nintendo – é previsível.

Finalmente: na E3 2010, o recém-lançado iPad já ganha sua primeira fornada de jogos sofisticados. Não estamos mais falando de jogos casuais, ou mesmo versões de franquias conhecidas que já estavam disponíveis para smartphones.

A lista de jogos para iPad desta E3 inclui jogos como Mirror’s Edge, NFL 2010, Sonic 4, Command & Conquer: Red Alert. São games que pegam na veia do hardcore gamer. Nintendo, Microsoft e Sony são empresas poderosas, com produtos e serviços sedutores, grandes novidades chegando este ano, fãs ardorosos.

Têm seus defeitos e desafios? Os produtos e serviços Apple também têm muitos defeitos - mas a maçãzinha mordida conquistou nos últimos anos uma mística que não dá sinais de esvanecer.

Cada uma à sua maneira, as três grandes dos games enfrentam a mesma ameaça. Grande ausente da E3, a Apple é o elefante na sala, a presença que não dá para ignorar.

Fonte: Blog do André Forastieri