Hillary Clinton faz critica direta a acordo com Irã e fala em "sérias discordâncias" com Brasil
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acacioam
on quinta-feira, 27 de maio de 2010
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou nesta quinta-feira que os Estados Unidos e o Brasil têm "sérias discordâncias" em relação ao programa nuclear do Irã, apesar de as relações bilaterais em outros temas serem boas. Hillary disse ainda que o Irã está apenas usando o Brasil, e que atitudes como a do Brasil e da Turquia tornam o mundo mais perigoso.
Essas foram as declarações mais diretas feitas até agora sobre como os EUA veem a negociação brasileira e turca com os iranianos sobre seu programa nuclear. O Ocidente teme que o Irã pretenda desenvolver armas nucleares, mas Teerã afirma que o seu programa tem fins pacíficos.
"Sem dúvida, temos sérias divergências com a política diplomática do Brasil em relação ao Irã", disse Hillary. "Mas nossa discordância não mina nosso comprometimento de ver o Brasil como um país amigo e parceiro", completou, questionada sobre como Washington enxergava o papel do Brasil na diplomacia global. "Nós queremos uma relação com o Brasil que resista ao teste do tempo", acrescentou.
Hillary afirmou ainda que o Irã estaria apenas usando o Brasil para ganhar tempo e evitar sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
"Nós dissemos (aos brasileiros) que não concordamos com isso, que pensamos que os iranianos estão usando o Brasil, nós achamos que é hora de ir ao Conselho de Segurança", disse Hillary, ao responder questões de jornalistas sobre a nova estratégia de segurança da administração Barack Obama, divulgada nesta quinta-feira
Hillary alegou que o acordo firmado com o Irã sob mediação do Brasil e da Turquia apenas serve para dar mais tempo para o país persa atingir suas ambições nucleares e impede a unidade da comunidade internacional em responder ao Irã. Ela continuou, dizendo que atitudes desse tipo tornam o mundo mais perigoso.
"Nós achamos que dar mais tempo ao Irã, permitir que o Irã evite a unidade internacional a respeito de seu programa nuclear torna o mundo mais --e não menos-- perigoso."
Hillary disse que a visão dos EUA --não compartilhada pelo Brasil-- é de que o Irã só vai concordar em negociar sobre seu programa nuclear após o impor sanções mais duras contra o país.
Em Brasília
Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou nesta quinta-feira que o acordo de troca de combustível com o Irã mediado por Brasil e Turquia atende às solicitações dos EUA e é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada.
Em entrevista coletiva em Brasília ao lado do primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, Lula disse que os envolvidos em negociações nucleares com o Irã precisam pensar em diálogo, e não em confronto.
Erdogan afirmou também que o momento não é o adequado para discutir sanções contra o Irã, que reafirmou à Turquia não ter planos de construir armas nucleares.
Lula reforçou que a lista de condições acatadas pelo líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, está muito próxima das propostas colocadas pelos Estados Unidos, em carta anterior ao acordo, endereçada pelo presidente Barack Obama tanto para o Brasil como para a Turquia.
O primeiro-ministro turco comentou, durante entrevista coletiva no Itamaraty, que "aqueles que criticam o processo são invejosos, fizemos o que era certo". Os dois líderes formularam um documento sobre a questão nuclear iraniana para levar ao encontro do G20 (que reúne os países desenvolvidos e emergentes), em junho, em Toronto (Canadá).
Os dois presidentes afirmaram que o comprometimento com o programa nuclear iraniano não será interrompido. Erdogan disse, inclusive, que já encaminhou cartas a 27 países. O líder disse estar convencido de que Teerã não tem fins bélicos em seu programa nuclear.
Entenda o caso
Os Estados Unidos acusam o Irã de querer desenvolver armas atômicas, algo que é negado pelos iranianos, que afirmam que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos.
O acordo tripartite, firmado no dia 17 de maio em Teerã com Brasil e Turquia, determina que o Irã envie 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20% na Rússia ou França --suficiente para a produção de isótopos médicos em seus reatores e muito abaixo dos 90% necessários para uma bomba. O urânio enriquecido seria devolvido ao Irã no prazo de um ano.
A troca aconteceria na Turquia, país com proximidades com Ocidente e Irã, e sob supervisão da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e vigilância iraniana e turca.
Com este acordo, o Irã pretendia tranquilizar a comunidade internacional sobre seu programa nuclear.
No entanto, no dia seguinte ao acordo, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas acertaram uma série de sanções contra o país, jogando por terra os esforços realizados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan, para resolver a crise por meio de negociações.
Um projeto de resolução, elaborado por Estados Unidos e apoiado por França, Rússia, China e Reino Unido, prevê sérias sanções contra o Irã, que ficará proibido de investir no exterior em certas atividades delicadas, terá seus navios inspecionados em alto mar, e sofrerá embargo sobre a compra de armas pesadas.
Na ocasião, Hillary Clinton agradeceu aos esforços de Brasil e Turquia, mas destacou as diversas reservas de Washington sobre o acordo tripartite, com a intervenção direta de Lula.
Sanções
A proposta de resolução do Conselho de Segurança da ONU com sanções contra o Irã, elaborada pelos EUA, Rússia e China prevê punições a bancos e outras empresas do país, além da criação de um regime internacional de inspeções em navios suspeitos de transportar cargas relacionadas aos programas nuclear e de mísseis.
O documento de dez páginas "pede aos Estados que adotem medidas adequadas para proibir (...) a abertura de novas agências, subsidiárias ou escritórios de representação de bancos iranianos" caso haja razões para supor que tais bancos estejam vinculados a atividades de proliferação nuclear.
O esboço também aponta "a necessidade de exercer vigilância sobre transações que envolvam bancos, inclusive o Banco Central do Irã, de modo a evitar que tais transações contribuam para a proliferação de atividades nucleares sensíveis" ou para o desenvolvimento de sistemas para o lançamento de armas atômicas.
A quarta rodada de sanções ao Irã ampliaria o embargo armamentista já em vigor contra o país, incluindo novas categorias de armamentos pesados.
Vários diplomatas ocidentais do Conselho de Segurança disseram que o órgão da ONU, com 15 países, deve votar a resolução no começo de junho.
COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/741831-hillary-clinton-faz-critica-direta-a-acordo-com-ira-e-fala-em-serias-discordancias-com-brasil.shtml
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